Além do bem-estar, iniciativa deixa pacientes bem humorados e traz benefícios a saúde.
Texto: Bianca Pereira
Nariz vermelho, tinta branca no rosto, bochecha rosada, jaleco com cores, boca desenhada e um sorriso enorme no semblante. É assim que os chamados Terapeutas da Alegria chegam todas as semanas aos hospitais da região. Lá, além dos pacientes, os acompanhantes, profissionais de saúde e funcionários são agraciados com horas de “pílulas diárias e boas doses de besteirologia” – uma espécie de slogan do grupo. Composto por voluntários da cidade de Itajaí e região, além de acadêmicos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o projeto tem como objetivo principal levar humanização para o ambiente hospitalar.

Com música, expressão corporal, teatro e bom humor os Terapeutas destinam-se a confortar o paciente que está fora da rotina, longe de familiares e bastante debilitado. Além de hospitais, visitas externas acontecem em asilos e orfanatos, com o interesse de levar, de maneira lúdica, alegria, descontração e um sentimento de superação àqueles que às vezes sofrem por abandono ou por graves doenças.
Amanda Steffen Roncada, 21 anos, se formou em Fisioterapia recentemente e é voluntária no grupo desde o segundo semestre de 2013. Para ela, mais do que levar alegria, o projeto transforma os voluntários em ótimos seres humanos. “A gente sempre fala que o projeto é uma troca. Ajudamos as pessoas, mas acabamos ajudando a nós mesmos. O ‘Terapeutas’ mudou a minha vida! Eu aprendo muito a dar valor às pequenas coisas. O projeto é a prova de que o sorriso e o bom humor fazem a diferença no nosso dia a dia”, revela.

Muitos pesquisadores já constataram a eficácia e o poder do bom humor e do riso para a cura de várias doenças, como problemas cardíacos e depressão. No livro “A Terapia do Riso”, de Eduardo Lambert, o autor afirma que o riso relaxa o corpo, dando uma sensação de bem-estar, algo também comprovado por Amanda. “Quando a pessoa está mais humorada ela consegue se adaptar melhor ao ambiente que está convivendo e se ajeita melhor com as situações. O riso realmente transforma o dia da pessoa”, analisa.
Outros grupos desenvolvem um papel parecido pela região. É o caso do Doutores da Graça, projeto idealizado por André Silva Machado em conjunto com um grupo de teatro. “A ideia surgiu em 2010, quando montamos um grupo de teatro. Eu tinha vários personagens, e um deles era um palhaço”. O grupo faz visitas mensais a asilos, orfanatos, encontros de mulheres, crianças e escolas, e leva, além da alegria – sua marca registrada –, um pouco de lições bíblicas.

Para os Terapeutas da Alegria, não é só a caracterização que conta como preparo para as ações. O grupo tem músicas próprias, escritas por terapeutas antigos. Em cada visita, um violão acompanha a equipe, que brinca com os ritmos musicais, transmitindo leveza aos pacientes.
Além disso, cada voluntário recebe um nome, de acordo com alguma característica sua ou por escolha de alguma criança ou idoso. Foi assim que Amanda se tornou a Dra. Flor do Cabelo Assanhado – apelido escolhido por uma senhorinha, por usar sempre uma flor no rosto. Por ter o cabelo solto, uma criança a apelidou de “cabelo assanhado”. Aconteceu, então, uma mistura dos dois apelidos.

André também ganhou um apelido no Doutores da Graça. Por não conseguir ficar parado e ser bastante agitado, o corretor de imóveis recebeu o nome de Dr. Espuleta. Ele, além de ter satisfação e sentimento de dever cumprido por realizar este trabalho, acredita que sair de casa uma vez por mês e se dirigir até as instituições faz as pessoas se sentirem importantes e estimuladas. “É um momento em que elas esquecem todos os problemas e vivem aquilo intensamente, sendo elas mesmas”, descreve.

Ser um voluntário dos projetos não é tarefa fácil. É preciso ter comprometimento, carinho e dedicação. Não é apenas se vestir de palhaço, mas saber transformar a vida de pessoas que esperam por momentos de alegria.